A atualização do selo Empresa Pró-Ética marca a consolidação dos critérios ESG na avaliação da integridade e maturidade das empresas brasileiras.
Em 2025, a Controladoria-Geral da União (CGU) deu um passo relevante ao incorporar de forma mais estruturada os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) na avaliação das empresas que almejam o selo Empresa Pró-Ética. A medida não apenas atualiza os parâmetros de integridade empresarial diante dos desafios contemporâneos, como por exemplo a introdução a IA (Inteligência Artificial) nos processos corporativos, como também sinaliza a expectativa do setor público em relação ao papel das empresas na promoção de práticas sustentáveis e responsáveis.
Criado em 2010 para reconhecer organizações comprometidas com a integridade e o combate à corrupção, o programa Empresa Pró-Ética vinha tradicionalmente centrado em critérios ligados à conformidade legal, ética e governança corporativa, visando avaliar principalmente a capacidade das empresas em prevenção da corrupção e outras fraudes. Em sua edição mais recente, no entanto, a CGU ampliou esse escopo ao incorporar tópicos como diversidade e inclusão, impacto ambiental, direitos humanos e gestão de riscos climáticos, alinhando-se às diretrizes internacionais como as da OCDE, da ONU e do ISSB.
Essa mudança não é trivial. Ela representa uma virada importante na forma como o governo federal reconhece boas práticas empresariais, também em aspectos socioambientais. Ao valorizar empresas que internalizam os princípios ESG, o selo passa a distinguir não apenas quem está em conformidade com a lei, mas quem antecipa demandas da sociedade e contribui para um modelo de desenvolvimento mais sustentável.
Além disso, trata-se de um movimento natural na evolução dos programas de integridade e conformidade, frequentemente avaliados nas edições do Pró-Ética. Isso demonstra que, mais do que apenas prevenir a corrupção nas instituições, é fundamental adotar uma visão de longo prazo — especialmente sustentável — sobre os aspectos de governança que permeiam qualquer organização que almeja um crescimento consistente e efetivo.
No entanto, a decisão da CGU também evidencia um desafio estrutural: a maturidade ESG das empresas brasileiras ainda é muito desigual. Grandes corporações, especialmente aquelas inseridas em cadeias globais ou expostas a mercados internacionais, já avançam na incorporação de métricas ESG bem como na transparência dessas informações por meio de relatórios já bastante maduros, adotando frameworks internacionais, inclusive com asseguração de conteúdo. Muitas mantêm comitês de sustentabilidade, adotam indicadores a respeito de suas emissões de Gases de Efeito Estufa e demonstram apoio por meio de assinatura do Pacto Global pelos Direitos Humanos. Por outro lado, pequenas e médias empresas, e até mesmo grandes empresas com atuação regional, muitas vezes enfrentam dificuldades para compreender e operacionalizar esse tipo de agenda. É perceptível até uma certa resistência em olhar para o tema “ESG” como uma forma de evolução corporativa.
É nesse ponto que o Pró-Ética 2025 pode cumprir um papel estratégico: servir como vetor de aprendizado, estímulo e benchmarking. Ao explicitar os critérios ESG no processo de avaliação, a CGU convida as empresas brasileiras a refletirem sobre sua atuação além da integridade formal. Coloca no centro do debate a ideia de que ética empresarial não se limita à prevenção da corrupção — ela também envolve responsabilidade com o meio ambiente, equidade social e transparência sobre impactos. O ESG mais que uma prática empresarial, é uma questão de sobrevivência.
Dessa forma, a Empresa Pró-Ética se torna, assim, um espelho do estágio atual e um catalisador do avanço da cultura ESG no setor privado nacional. Cabe agora aos líderes empresariais perceberem que incorporar os princípios ESG não é apenas uma questão de reputação ou compliance, mas uma exigência estratégica para manter relevância, competitividade e legitimidade durante o novo momento global, ampliando o valor das instituições
Em tempos de transformações climáticas, tensões sociais e exigências crescentes de transparência, a pergunta que fica para as empresas é: estamos apenas adaptando processos para atender avaliações externas, ou realmente integrando os valores ESG em nossas decisões estratégicas?
A CGU já fez seu movimento. Agora é a vez das empresas brasileiras mostrarem se estão prontas para esse novo patamar de responsabilidade. A CGU ainda está avaliando as empresas candidatas do ciclo de 2025-2026, mas o próximo ciclo de avaliação começa agora com a revisão de políticas, estratégia e governança, principalmente para os programas ESG que precisarão apresentar evolução para o próximo ciclo.
Assim, muitas vezes para auxiliar uma instituição em sua preparação, planejamento, execução e monitoramento, pode ser viável contar com uma consultoria externa com diversos especialistas, afinal, um trabalho de ESG é antes de tudo, coletivo e cultural, daí a necessidade de trabalhar com diferentes especializações para a sua correta aplicação.
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Por Beatriz Busti Bottairi, consultora sênior de Forensics & Integrity na Protiviti Brasil.