No cenário atual da segurança cibernética, onde ameaças evoluem em ritmo acelerado e os dispositivos conectados se multiplicam, proteger a infraestrutura de TI é um desafio constante. Entre as práticas mais eficazes para mitigar riscos está o hardening de dispositivos, um processo de configuração segura de sistemas, aplicações e dispositivos com o objetivo de reduzir a superfície de ataque e limitar as oportunidades de exploração por agentes maliciosos.
Além de ser uma recomendação comum em frameworks como CIS Benchmarks, NIST e ISO/IEC 27001, o hardening se mostra uma iniciativa estratégica para a continuidade dos negócios, prevenção de incidentes e conformidade regulatória.
O que é hardening?
Hardening é o conjunto de medidas voltadas para:
- Desativar serviços desnecessários;
- Aplicar atualizações de segurança;
- Restringir permissões com base no princípio do privilégio mínimo;
- Revisar políticas de autenticação e senha;
- Bloquear portas e protocolos inseguros;
- Habilitar criptografia e backups automáticos;
- Auditar eventos e configurar alertas para anomalias.
A aplicação dessas medidas deve ser contínua, documentada e adaptada ao tipo de dispositivo e ao contexto de uso.
Por que o hardening é crucial?
- Redução da superfície de ataque: sistemas com configurações padrão são vulneráveis por design. Com o hardening, pontos de entrada desnecessários são eliminados.
- Prevenção de incidentes: a configuração segura previne infecções por malware, ransomwares, acessos indevidos e vazamentos de dados.
- Conformidade Regulatória: normas como a LGPD, ISO 27001 e PCI-DSS exigem que controles técnicos sejam aplicados para reduzir riscos. O hardening ajuda a garantir essa conformidade.
- Proteção de Dados Sensíveis: ao controlar acessos e criptografar informações, evita-se a exposição de dados corporativos e de clientes.
- Eficiência Operacional: menos serviços em execução resultam em sistemas mais leves, estáveis e com menor superfície de falhas.
Aplicação prática: hardening de dispositivos Apple
Em junho de 2025, conduzi um processo de hardening nos dispositivos Apple corporativos, com foco em iPhones e iMacs, utilizados por colaboradores em áreas sensíveis. Essa ação tinha alguns objetivos, como o Compliance com políticas internas e requisitos externos, a mitigação de riscos, especialmente de malware, perda de dados e acessos indevidos e a proteção da integridade, confidencialidade e disponibilidade das informações processadas nos dispositivos.
Dispositivos inspecionados:
– iPhones corporativos;
– iMacs utilizados em contextos críticos.
Ações realizadas:
Nos iPhones:
– Reforço da política de senhas com Face ID e autenticação multifator (MFA);
– Revisão das permissões de aplicativos;
– Desativação do preenchimento automático de senhas;
– Recomendação de uso do backup iCloud com criptografia ativada.
Nos iMacs:
– Ativação e revisão do Firewall interno do macOS;
– Ajuste de permissões de aplicativos;
– Desativação do preenchimento automático de senhas;
– Configuração de backup automático e criptografado.
Estratégias e riscos mitigados
As medidas foram estruturadas com base nas seguintes estratégias:
- Gerenciamento Centralizado dos dispositivos;
- Políticas de acesso rigorosas, evitando privilégios excessivos;
- Monitoramento contínuo, com foco na detecção de anomalias;
- Conscientização dos usuários, reforçando boas práticas de segurança.
Entre os riscos mitigados, podemos destacar acessos não-autorizados; vazamentos ou perda de dados; infecções por malware; e ataques de phishing.
Desafios e boas práticas
Apesar de eficaz, o hardening enfrenta obstáculos como a falta de padronização em ambientes híbridos, a resistência de usuários a mudanças em usabilidade e a dificuldade em manter controles atualizados.
Para superá-los, algumas boas práticas são recomendadas:
- Adoção de scripts de automação e ferramentas de gerenciamento;
- Definição de baselines seguros por tipo de dispositivo;
- Auditorias periódicas;
- Treinamento e capacitação contínua da equipe.
O hardening de dispositivos é uma das práticas mais eficientes para reforçar a segurança cibernética de uma organização. Ele reduz vulnerabilidades, melhora a resiliência operacional, auxilia no compliance e protege os dados contra uma variedade de ameaças.
A experiência prática de aplicar essas medidas nos dispositivos Apple corporativos demonstrou como uma ação pontual e bem planejada pode trazer resultados expressivos. Mais do que uma obrigação técnica, o hardening é um investimento em confiança, continuidade e maturidade em segurança da informação.
Referências
CENTER FOR INTERNET SECURITY. CIS Benchmarks. Disponível em: https://www.cisecurity.org/cis-benchmarks.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO/IEC 27001:2022 – Information security, cybersecurity and privacy protection — Information security management systems. Genebra: ISO, 2022. Disponível em: https://www.iso.org/isoiec-27001-information-security.html.
NATIONAL INSTITUTE OF STANDARDS AND TECHNOLOGY. Framework for Improving Critical Infrastructure Cybersecurity – Version 1.1. Gaithersburg, MD: NIST, 2018. Disponível em: https://www.nist.gov/cyberframework.
OWASP FOUNDATION. OWASP Mobile Security Testing Guide (MSTG). Disponível em: https://owasp.org/www-project-mobile-security-testing-guide.
APPLE INC. Apple Platform Security. Cupertino: Apple, 2024. Disponível em: https://support.apple.com/guide/security.
BRASIL. Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 157, n. 158, p. 1-7, 15 ago. 2018. Disponível em: https://www.gov.br/anpd/.
SANS INSTITUTE. Critical Security Controls v8. Bethesda, MD: SANS, 2021. Disponível em: https://www.sans.org/critical-security-controls/.
Por Gabriel Rodrigues de Sousa, Consultor de SOC na Protiviti Brasil.