Investigação Empresarial Archives - Página 2 de 2 - Protiviti

A percepção sobre como o mundo é e como ele funciona define o que acreditamos saber e o que nos parece incerto. Ainda que o futuro não seja previsível, a formulação de hipóteses sobre ele, seja por meio da experiência e conhecimento consolidado como pelo uso de modelos estatísticos, tem ganhado cada vez mais importância. Por isso surgiu o gerenciamento de riscos.

O motivo disso é que o ser humano sente a necessidade intrínseca de imaginar as possíveis consequências das suas decisões, de ter uma percepção mínima dos riscos existentes ou prováveis e, claro, se antecipar a estes adotando maneiras de administrá-los. 

No campo dos negócios, riscos são fenômenos naturais. Todo empreendimento comercial envolve riscos, em especial o mais importante de todos: se uma empresa continuará a existir ou não.

Pensando então inicialmente em sua própria sobrevivência, a compreensão do máximo de riscos envolvidos numa ação no mercado ajuda administradores e gestores a tomarem as melhores decisões dentre os cenários prováveis e possíveis.

Níveis de riscos e suas consequências

No gerenciamento de riscos sabe-se que nem todos os riscos não são iguais, eles também não são encarados com o mesmo grau de importância. Alguns são considerados pelos tomadores de decisão mais graves que outros.

Nesse sentido, podemos imaginar três círculos concêntricos, sendo que o círculo mais próximo do centro demanda resoluções imediatas e definitivas. Já os mais distantes precisam de soluções construídas e implementadas a médio e longo prazo.

Riscos do círculo mais interno

Os riscos presentes no círculo mais interno estão ligados a prejuízos financeiros diretos, causados tanto pelas relações comerciais da empresa – clientes e fornecedores inadimplentes – como por desvios, roubos e danos provocados por agentes internos (funcionários e parceiros) e externos (ladrões de forma geral) contra o negócio.

Costumam ser estes os que mais preocupam empresários e administradores, por serem obviamente os tipos de riscos com consequências perniciosas mais evidentes e rápidas para a empresa.

As soluções tomadas para gerenciar esses tipos de riscos podem ser as seguintes medidas segurança no local de trabalho, como:

Riscos do círculo do meio

Os riscos do círculo do meio envolvem igualmente perdas monetárias. No entanto, são consequências de certos atos e omissões ligadas a administração regular do negócio.

Se enquadrariam aqui a não conformidade da empresa com seus deveres comerciais, financeiros, tributários, trabalhistas, judiciais e regulatórios de forma geral.

Os danos nesse caso são, portanto, decorrentes da companhia não se manter em compliance com suas obrigações formais. E são estas as que viabilizam legalmente e financeiramente seu empreendimento e eliminam (ou pelo menos reduzem bastante) a possibilidade de sofrer condenações do Estado-Juiz e sanções dos órgãos reguladores.

Nesses casos, a ferramenta mais utilizada por tomadores de decisão para medir o tamanho destes riscos é o background check (também chamado de due diligence).

Por meio de sua realização, é possível encontrar os mais diversos tipos de gaps e problemas atuais dentro de uma companhia. Também podem descobrir pontos de atenção que demandem soluções imediatas para continuidade de um negócio.

Esta ferramenta pode ser utilizada para o levantamento de qualquer passivo – consolidado ou possível – e irregularidades da companhia. Assim, o background check é o principal meio pelo qual tomadores de decisão podem obter as informações que necessitam.

Gerenciamento de riscos do círculo externo

Finalmente, os riscos que habitam o último e mais externo círculo são todos os que podem ser classificados como riscos de mercado e, consequentemente, são os mais imbuídos de incertezas.

Eles estão ligados a eventos externos a administração da companhia, tais como crises e transformações na economia, além de mudanças importantes na sociedade e nas legislações. E isso não significa que nada possa ser feito por seus gestores para minimizar seus impactos e preparar seus negócios para novos e imprevisíveis cenários.

Os desafios no gerenciamento de riscos de mercado no século XXI vão muito além de garantir o lucro do negócio no balanço anual. É preciso ter uma estrutura gerencial e de atuação que favoreça a constante inovação e qualidade nos produtos e serviços, mantendo o empreendimento alinhado com as necessidades reais do seu público consumidor (onde o marketing é tanto transmissor como receptor de tendências).

Além disso, a esses esforços se somam, atualmente, a preocupação com a diversidade étnica, sexual e de gênero no ambiente de trabalho, a cobrança por uma consciência ambiental e social dos negócios, além de padrões éticos de governança corporativa.

Apanhado geral sobre o gerenciamento de riscos

Apesar de todos os riscos demandarem soluções de profundidade e agilidade distintas, é impraticável para grandes empresas deixar que só uma pessoa gerencie todos os riscos existentes num empreendimento. Igualmente seria inviável financeiramente para pequenos negócios e companhias de médio porte alocar um responsável para cada tipo de risco existentes. 

Um caminho muito mais interessante e recomendável é descentralizar essa responsabilidade, alimentando uma cultura de compliance na corporação, que vá desde a alta direção e chegue até os funcionários mais próximos do operacional do negócio.

A vantagem dessa solução é que quem está diariamente a frente das atividades, nas quais estes riscos possam emergir, possuem uma melhor compreensão dos mesmos e de como lidar com eles.

Além do mais, o gerenciamento dos riscos enquanto obrigação coletiva alimenta entre os colaboradores o chamado senso de dono, fazendo-os se sentirem parte realmente da manutenção e crescimento da empresa onde trabalham.

O mais importante, no fim, é que o gerenciamento dos riscos, sejam estes de qualquer um dos círculos assinalados, se torne parte integrante de todo negócio. Ao se converter em meio central para a tomada de decisões, ele permite que qualquer companhia, independente do seu tamanho e mercado, seja resiliente e ágil em todas as suas atividades. Assim, lida com maior profissionalismo com as consequências de eventos previsíveis e até dos imprevisíveis.

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* Adriel Santana é advogado e Coordenador de Forense e Investigações Empresariais

Quando se imagina um relatório de natureza investigativa, seja ele oriundo da polícia, do Ministério Público ou do setor privado (fruto do compliance corporativo), é natural vislumbrar uma pasta contendo vários documentos de diversas fontes e longos textos explicativos sobre seu conteúdo. Essa visão burocrática é consequência de uma noção antiga sobre formalidade que ignora o papel (muitas vezes essencial) do poder que a ilustração e outros recursos visuais possuem em transmitir informações.

A respeitabilidade de ilustrações e recursos visuais

A ideia de um material ilustrativo que expresse, de forma concisa e clara, os resultados e conclusões do levantamento de uma investigação empresarial pode, à primeira vista, parecer indevida.

Como já dito, a preocupação formalística comum é que o uso de recursos gráficos possa, de alguma maneira, afetar a “respeitabilidade” do relatório, fazendo com que o destinatário do material, seja ele uma autoridade ou um corpo diretivo, não o trate com a devida seriedade.

Além dessa concepção não corresponder mais a prática da atuação dos entes públicos com poderes investigativos, ao se abrir mão do uso de imagens, gráficos, redes de relacionamento e linhas do tempo, se ignora que as pessoas absorvem informações de maneira mais eficiente de formas diversas.

A importância da ilustração na investigação empresarial

Pedagogicamente, já é bem conhecido a importância da utilização de recursos visuais, auditivos e até cinestésicos, todos ligados aos sentidos humanos, para o aprendizado humano. Saber como transmitir, da melhor forma possível, uma informação ou conjunto de dados é essencial.

Dada a crescente complexidade dos esquemas criminosos e litígios de forma geral em nossa sociedade, limitar as constatações contidas nos relatórios de investigação à escrita, retira a possibilidade do uso legítimo de formas visuais. Eles são incrivelmente eficientes para transmitir as informações e ajudariam o receptor a não apenas compreender os fatos apurados, mas fixa-los com maior facilidade na memória.

Esse fato inclusive já é passível de confirmação ao se observar o conteúdo de inquéritos policiais e petições dos ministérios públicos em ações criminais nessa última década. Neles, houve a popularização do uso de redes que ilustram, de forma simples, o modus operandi dos atos ilegais e conexões entre os investigados, sintetizando os resultados da apuração.

Uso de recursos visuais em investigações empresariais

Em casos criminais de grande repercussão nacional, como os da Operação Lava Jato e similares, em que o número de fatos apurados e pessoas envolvidas são enormes, a opção pelo recurso gráfico evidentemente auxilia os julgadores a compreender e lembrar do “quadro geral” exibido.

Redes de relacionamento podem ser usadas para apresentar, concisamente, desde como e por quais meios os investigados se ligam, passando, a depender da importância para a investigação, por seus próprios núcleos familiares, de afinidade, empresariais e profissionais. Eles também apontam demais vínculos com pessoas físicas e jurídicas relevantes ao caso concreto.

Uma rede bem estrutura também serve para vislumbrar, genericamente, a forma como certos esquemas investigados funcionam ou funcionavam, assinalando seus operadores, intermediadores e beneficiários finais.

Linhas do tempo são outro recurso visual significativo num material investigativo, pois colocam os fatos apurados e evidências encontradas dentro de um encadeamento cronológico. Elas permitem que o destinatário do material possa, inclusive, perceber conexões entre eventos ocorridos com agentes distintos que, vistos isoladamente, poderiam passar desapercebidos numa análise puramente textual.

Em alguns casos, combinar no relatório o uso de imagens, contendo trechos “reveladores” ou muito importantes das provas coletadas, com textos explicativos ou contextualizadores é a opção mais razoável de ser adotada.

Isso, porém, não impede que o responsável pela confecção do material possa está aberto a possibilidade de substituição desse meio, quando for factível e interessante, por uma opção estritamente gráfica. E tudo isso visando potencializar a capacidade comunicativa da informação ou dado a ser apresentado. Como todo recurso, afinal, é preciso saber como e quando melhor usá-lo.

De maneira alguma, e isso é importante deixar explícito, se está minimizando ou se defendendo aqui que as evidências materiais coletadas sejam substituídas em relatórios por puras ilustrações e gráficos.

As provas “brutas” colhidas, que compõem e embasam as conclusões de uma investigação, são a alma de uma verdadeira análise investigativa. São estas evidências, em seus estados documentais ou visuais (vídeos e fotos), que, no final, servirão como material qualificado para provar os fatos apurados, seja num procedimento corporativo e administrativo como num processo judicial ou arbitral.

Há, contudo, formas à disposição dos investigadores muito mais eficientes de apresentar os resultados finais de um trabalho de apuração, especialmente quando se busca conectar as várias provas colhidas numa teia lógica para o leitor do material.

No fim das contas, o que se busca aqui é lembrar os operadores que atuam no ramo investigativo de um dos objetivos centrais de todo relatório: informar com clareza seu conteúdo, para que o seu destinatário possa tomar uma decisão rápida e fundamentada.

* Adriel Santana é advogado e Coordenador na área de Forensic e Investigação Empresarial da ICTS Protiviti e Guilherme Pereira é graduando em Direito e Analista de Diligências na ICTS Protiviti.

Em ações penais é comum que o Ministério Público investigue o acusado acerca de seu ato criminoso, buscando indícios que vinculem o autor do ato ao fato. Contudo, em ações civis é de práxis a máxima “quem alega deve provar”. São nessas ocasiões que a investigação pessoal e empresarial podem ser úteis para apresentação em juízo, de modo a robustecer as provas apresentadas.

Fases da investigação pessoal e empresarial

A investigação em ações judiciais pode se dar tanto na fase instrutória como na fase de execução. A seguir, apresentaremos com mais detalhes cada fase.

Como funciona a fase instrutória

Na fase instrutória, a análise pode ser desde a descaracterização de uma gratuidade de justiça até a demonstração de esquemas, análise de documentos, levantamento comportamental em outros processos e nas redes sociais etc.

Na instrução, tomando como exemplo as ações trabalhistas, é possível ver se o funcionário difamava a empresa, se mantinha contato próximo com a concorrência em cargo que pudesse ocasionar vazamento de informações. Também pode ser visto se ele mantinha contato com outras empresas e se apropriava de informações e dados sigilosos e privilegiados em benefício próprio ou de pessoa próxima.

Ainda, é interessante a análise de outros processos, bem como de documentos anexados, para perceber o comportamento litigante e o que costuma ser alegado.

Em casos de disputas entre sócios e empresas, também é importante verificar questões de dívidas e regularidades para o desfazimento de contratos ou destituição de sócios.

Ao localizar irregularidades em licenças de atuação, ambientais, fiscais, entre outros, é possível anular contratos visando o afastamento do prejuízo de pagamento de multa pela rescisão.

Como funciona a fase executória

Na fase executória, na impossibilidade de localização de bens e valores pelo juiz, o levantamento patrimonial em nome da pessoa física ou jurídica, bem como de família extensa ou sócios, pode facilitar e acelerar o procedimento executório. Normalmente, tal procedimento costuma levar muito tempo para ser concluído e o resultado, por muitas vezes, resta frustrado.

Ainda aproveitando o exemplo da esfera trabalhista, muitas empresas vão à falência ou saem da sociedade antes da decretação da mesma para que seu patrimônio não seja atingido.

Traçando o histórico societário e levantando os bens dos sócios é possível rastrear seu patrimônio e outras possíveis sociedades. Nesta situação, é possível requerer a desconsideração da personalidade jurídica inversa, que ocorre quando uma pessoa visa esconder seu patrimônio pessoal constituindo outras empresas e dificultando a execução.

Ademais, a investigação também se aplica na possibilidade de pedido de impedimento do julgador. Isto porque a investigação pode trazer respostas acerca de decisões sempre positivas a uma das partes ou averiguar vínculos entre o julgador e uma das partes envolvidas no litígio que possa indicar risco à imparcialidade do processo.

Sendo assim, a investigação pessoal e empresarial voltada aos litígios e disputas, bem como a investigação de ativos, pode trazer vantagens na ações judiciais e defesas quanto à formação de provas e no convencimento do julgador.

O conteúdo sobre investigação pessoal e empresarial foi útil para você? Então você pode se interessar por esse aqui também: A importância das redes sociais na investigação empresarial e relacional.

* Jessica Carvalho, Advogada e Analista de Diligências.

O que você sabe sobre desengajamento moral e suas consequências? De todos os fatos que marcaram o turbulento ano de 2020 há um que ganhou proporções até então inéditas e que levantou forte discussões em várias sociedades. No caso, foi o comportamento adotado por quantidade considerável de indivíduos que optaram por ignorar medidas sanitárias como o isolamento social. E não apenas isso, eles abertamente se posicionaram contrários a adoção de qualquer nível de proteção como o uso de máscaras em locais públicos.

A questão mais repetida em face de tal questionado comportamento é por qual motivo uma pessoa faria algo que, não apenas pode prejudicá-la, como também colocar em risco aqueles que lhe são próximas. Gostaria de saber mais? Leia nosso texto sobre desengajamento moral.

Agir de forma ética ou antiética é uma escolha?

Quando uma pessoa age de forma diferente do que se esperaria socialmente e eticamente dela, a reação mais comum de julgamento desse ato é afirmar que o indivíduo é “imoral” ou “antiético”. Isso se deve ao fato de que, comumente, analisamos a moralidade pelo seu efeito inibidor, ou seja, aquilo que enquanto cidadãos não devemos fazer, o que é considerado errado pela nossa sociedade.

Contudo, essa conclusão simplificadora — o indivíduo ser imoral — não ajuda a compreender efetivamente como se dá o processo de tomada de decisão da pessoa naquele caso concreto. A compreensão das formas pelas quais um indivíduo decide fazer algo que sabe ser errado tem um papel importante para além do conhecimento acadêmico. 

No campo da criminologia, o estudo do criminoso permite as agências policiais aprimorarem suas técnicas investigativas para capturá-los. E, no âmbito corporativo, entender como funcionários e colaboradores pensam e agem de forma antiética, ilícita ou ilegal, pode permitir que programas de compliance, investigação e auditoria se tornem mais efetivos em coibir e detectar riscos nos negócios.

O psicólogo canadense Albert Bandura, um dos nomes mais referenciados academicamente na sua área, tratou dessa questão.

Ele desenvolveu uma teoria sobre psicologia moral que, dentre outros tópicos, de forma resumida, afirma que, se por um lado a moralidade atua como forma de inibir nossos comportamentos socialmente indesejados, por outro, ela não funciona de maneira automática, mas sendo ativada (ou não) pelo indivíduo caso a caso por meio de mecanismos psicológicos que nos autorregulam.

O desengajamento moral

O ato pelo qual o indivíduo se convence a não ativar estes mecanismos autorregulatórios foi denominado por Bandura de desengajamento moral. Segundo ele, esse processo se dá de maneiras que se focam em aspectos distintos da moralidade:

O desengajamento moral focado na conduta em si ocorre quando o indivíduo reinterpreta o ato condenável como sendo algo aceitável, portanto, moralmente justificado ou no mínimo tolerado.

Esse processo de reinterpretação pode ocorrer por meio de uma linguagem eufemística – no qual a pessoa utiliza termos do cotidiano para se referir aos atos da conduta irregular – e da comparação vantajosa – em que o ato imoral se tornaria moral quando comparado a outro considerado mais lesivo. 

Como funciona a reinterpretação da conduta no ambiente de trabalho

No cenário corporativo, a linguagem eufemística e a comparação vantajosa são atitudes bastante fáceis de detectar. O ato do pagamento de propina e vantagens financeiras por empresas para funcionários públicos e políticos serem renomeadas como expressões sem uma rejeição moral são comuns, por exemplo.

“Taxa”, “incentivo”, “alpiste”, “acarajé” e outros foram termos banais ganharam o noticiário nacional quando esquemas de corrupção foram revelados. O melhor exemplo recente no Brasil de linguagem eufemística era o nome do departamento criado por uma grande empresa envolvida em esquemas de corrupção: “Divisão de Operações Estruturadas”. 

Já o uso da comparação vantajosa, ainda dentro dos exemplos anteriores, se observou quando esses casos ilícitos vieram à tona: a desculpa comum dos empresários é que “ou as companhias pagavam propina ou não teriam negócios com o governo e seriam prejudicadas financeiramente”. Ou seja, para eles, a corrupção seria um mal menor em nome da preservação da existência da empresa e dos empregos a ela atrelados.

Desengajamento moral focado na transferência da responsabilidade

Por sua vez, o processo de transferência da responsabilidade visa auto isentar o indivíduo do julgamento sobre a sua conduta imoral e das consequências deste ato.

Essa transferência pode ocorrer por meio de uma autoridade, que seria a responsável pela ordem para cometer o ato imoral, portanto, justificando-o. Já pela via da coletividade, o ato imoral é burocratizado e fragmentado, de maneira que por si o “sub ato” não representa algo condenável. Um ato considerado imoral ou ilegal é mais facilmente tolerado quando está sendo praticado em grupo (linchamentos são exemplos clássicos na criminologia). Em ambos os casos, o indivíduo diminui sua própria responsabilidade pelo ato condenável.

Profissionalmente, a utilização desse recurso mental de deslocar a responsabilidade pelos atos imorais é visualizado quando funcionários afirmam que estavam apenas “obedecendo ordens” dos seus diretores e gerentes, ainda que para cometer crimes e ilicitudes. Portanto, a culpa real não seria dele, mas de quem o ordenou.

Já o ato de dirimir a responsabilidade é observado quando os profissionais assumem que seu trabalho específico não é imoral em si e é praticado por outros sem julgamento. Por exemplo, quando um contador que atua para uma organização criminosa entende que pratica os mesmos atos diários (e moralmente neutros) como se estivesse trabalhando no departamento financeiro de uma grande empresa.

Desprezo pelas consequências

O desprezo das consequências merece um parágrafo específico pois talvez seja o processo que melhor reflete um grande problema das empresas. Como toda burocracia, a divisão das tarefas em fragmentos tanto facilita a realização delas, tornando o sistema mais eficiente, como também diminui a percepção individual sobre o processo como um todo, dificultando assim o julgamento moral dos atos.

É mais fácil convencer centenas e até mesmo milhares de pessoas a fazerem algo que, quando observado no geral, pode ser considerado imoral, se elas não enxergarem sua pequena participação no todo como algo igualmente condenável.

Quanto mais distante ou nebulosa as consequências finais forem daqueles que praticam os atos que as geraram, mais difícil é para o indivíduo assumir e sentir culpa por eles. 

O mesmo processo de minimização das consequências se observa, por exemplo, quando um funcionário que desvie verbas do caixa de uma grande companhia possa driblar a sua culpabilização moral, ao se convencer que seu ato não causará danos significativos. Afinal, sua empregadora seria financeiramente rica o bastante para não sentir falta de uma “pequena parte” do dinheiro que ele está furtando.

Culpabilização da vítima e deslocamento da culpa

Finalmente, a culpabilização da vítima e a atribuição da culpa para fora do indivíduo são os mecanismos com efeitos mais nocivos socialmente.

Quando o perpetrador do ato imoral, ilícito ou ilegal entende que a vítima dele — seja esta uma pessoa específica ou uma coletividade — é merecedora do mal ou (aparente) injustiça sofrida, sua atitude condenável não apenas se torna legítima, mas é vista como uma espécie de direito seu a ser exercido sem culpa.

O mesmo problema ocorre quando o indivíduo acredita que foi levado a cometer o ato imoral por “forças irresistíveis” e inescapáveis. Assim, lhe parecerá que não teve a possibilidade real de escolher livremente como agir.

No mundo dos negócios, é comum que colaboradores, geralmente com bastante tempo de casa, justifiquem as irregularidades cometidas contra seus próprios empregadores, declarando que não “obtiveram o devido reconhecimento” pelos anos de trabalho dedicados. Ou ainda invoquem um certo direito a “ganharem sua parte pelo sucesso da companhia”, este qual não seria financeiramente refletido no seu salário e bônus.

Todas as desculpas similares a estas partem do princípio de que o autor do ato condenável é que, na realidade, seria a real vítima e que, portanto, seria merecedor de obter uma “reparação” pela “injustiça” que lhe foi cometida pelo seu “algoz” (a vítima do seu ato).

Outras desculpas mentais nessa linha para evitar o julgamento moral perpassam pelo convencimento de que, por ter compromissos financeiros com sua família e pressões específicas do meio onde está inserido, o indivíduo comete o ato imoral porque “qualquer pessoa faria o mesmo” em seu lugar.

Este seria o caso de um funcionário que furtasse dinheiro da empresa porque algum parente está doente e precisa de um (caro) tratamento médico. Ou ainda porque está prestes a casar ou ter filho e o seu custo de vida aumentará. A ideia é evidente: se este se convence que (quase) todos fariam o mesmo em sua situação, então não há motivo para o indivíduo se sentir culpado.

Como enfrentar o desengajamento moral?

O que fica evidente em todos esses processos é que são muitos os meios pelas quais as pessoas procurarão não se julgar moralmente pelos seus atos.

Ninguém realmente deseja se ver como uma “pessoa imoral” ou “antiética”, e justamente por isso buscamos evitar nos condenar pelas nossas próprias decisões, por mais maléficas que estas sejam. É deste fato que se conclui que um sistema de compliance efetivo precisa ir além da transmissão e reforço via treinamento dos valores éticos almejados por uma empresa.

Reforçar cotidianamente o lado proativo da moralidade – não apenas o inibidor – é um constante desafio, especialmente no ambiente corporativo. Para tanto, é preciso que o indivíduo e seu ambiente profissional estejam alinhados sobre os valores éticos que importam e tomar posições firmes em sua defesa na prática do mercado, o que inclui também denunciar atos ilegais e irregulares quando os presenciar.

Prevenção e fiscalização são pilares essenciais de um bom programa de compliance. No entanto, precisam antes de tudo, ter direcionamentos bastante claros sobre quais riscos realmente procurar e que tipo de funcionário dentro da estrutura da empresa merece maior cautela e observação.

É necessário, portanto, dar a devida atenção aos vários mecanismos de desengajamento moral, buscando se antever aos riscos existentes no seu negócio, os quais possam incentivar o uso de uma ou outra justificativa mental por seus colaboradores para realizar o cometimento de atos imorais e irregulares.

Bibliografia

Desengajamento moral: teoria e pesquisa a partir da teoria social cognitiva. Alberta Bandura, Roberta Gurgel Azzi, Luciene Tognetta (organizadores). Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015. 

O que você achou do texto? Lembra de outros processos de desengajamento moral no ambiente corporativo? Compartilhe a sua opinião nos comentários.

*Adriel Santana, Coordenador de Forense e Investigações Empresariais na Protiviti

Desde sua criação até os dias de hoje, as redes sociais passaram por transformações e adaptações de acordo com as necessidades e interesses de seus usuários. As funções principais de tais redes são:

Atualmente, é muito difícil encontrar uma pessoa que não esteja presente em pelo menos uma delas.

Facebook, LinkedIn, Instagram, Twitter, TikTok, apenas para citar algumas, não são mais apenas ferramentas de divulgação ou interação social, mas se tornaram também uma fonte rica para a investigação Forense.

Importância da investigação das redes sociais

Por ser um resultado de interação, as redes sociais refletem muito da atitude e mentalidade de uma pessoa ou negócio/marca. O comportamento nas plataformas é essencial para análise investigativa por diversos motivos: em casos de contratação, por exemplo, as atitudes e falas em rede social podem indicar que tipo de risco uma empresa terá em sua reputação na contratação de um funcionário.

Comentários preconceituosos, agressões ou até mesmo um simples elogio ou exaltação a pessoas públicas podem indicar o posicionamento e mentalidade do futuro contratado. E indica, também, e se este pratica valores similares as companhias interessadas em contar com seus serviços. A partir disso, é possível averiguar que implicações isso pode trazer para empresa quando do ato da contratação.

Impacto nos negócios

Na aquisição de um negócio, isto também não é muito diferente. Em um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais e sociais, o comportamento de uma empresa em rede social pode projetar ou prejudicar uma marca.

É essencial que as marcas se posicionem e estejam sempre atentas ao alcance e impacto de suas postagens. E isto também não exclui a responsabilidade em relação ao comportamento de seus funcionários, sendo sempre necessário uma autoanálise e investigação destes.

No sentido de investigação dos próprios funcionários, buscas nas redes sociais tornam possível verificar os tipos de relacionamentos da pessoa objeto de investigação.

Isto, porque, a apuração de uma rede relacional é importante para detectar se algum funcionário está praticando vazamento de informações da empresa para concorrentes. Ou ainda, se está atingindo de alguma forma a reputação da mesma, seja difamando a marca diretamente ou divulgando informações distorcidas sobre os negócios.

Também, além das publicações textuais, a divulgação de fotos e vídeos podem demonstrar o estilo de vida sustentado pela pessoa investigada. Isto é de fundamental importância para análise de compatibilidade patrimonial ou confrontação de ativos que uma pessoa alegue ter ou não.

Neste ponto, temos como exemplo o seguinte: se um funcionário está em cargo cujo salário é considerado baixo, como é possível ele frequentar toda semana restaurantes luxuosos, em que apenas uma conta seria quase todo o seu salário? Como uma pessoa que sem aparente fonte de renda paralela e estando endividada pode passar férias prolongadas em um destino turístico no exterior?

Ainda no que concerne à incompatibilidade de patrimônio ou ocultação de bens, o mapeamento dos contatos nas redes sociais pode ajudar a detectar parentes ou amigos próximos que possam atuar como “laranjas” de pesquisados. Neste caso, é importante que a investigação seja estendida a estas pessoas relacionadas, averiguando se estas não estão auxiliando o investigado principal em possíveis fraudes ao crédito ou a execução.

Diante do exposto, a importância da análise de redes sociais é indispensável para a investigação de pessoas e marcas comerciais, vez que refletem, neste mundo virtual tão interligado, muito da vida e pensamento dos mesmos e tudo aquilo que querem expor publicamente.

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Bibliografia

https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/344826698/as-redes-sociais-no-mundo-do-crime – Acesso em 13/12/2020
https://blog.ipog.edu.br/tecnologia/investigacao-forense-facebook-whatsapp/ – Acesso em 13/12/2020
https://www.researchgate.net/publication/287729819_Investigacao_Forense_Digital_em_Redes_Sociais_A_Analise_das_Evidencias_de_Crimes_no_Facebook_e_no_Twitter – Acesso em 13/12/2020

As empresas direcionam e administram seus interesses, principalmente as estratégias comerciais e de segurança, através do acesso, controle e compartilhamento de informações. Muitas das empresas brasileiras estão há 6 meses com grande parte do quadro de colaboradores, em home office. Dessa forma, foi imprescindível o diálogo e orientação através de comunicados ou boletins sobre o panorama da COVID-19, no entanto, como ter certeza do que estão acessando e compartilhando? Esse é o papel da inteligência corporativa.

Desafio da distribuição de informações corretas

Em termos estratégicos, ficou notório que o combate à COVID-19 está sendo travada além dos meios sanitários. Isto é, o meio digital tornou-se protagonista pela divulgação informações sem credibilidade.

Com a polarização de informes conflitantes no início da quarentena, bastaria acessar uma rede social ou ligar a televisão, para nos deparar com diversos informações oficiais e não-oficiais, nacionais e internacionais.

A dificuldade, para as empresas durante essa fase de home office com aparente vulnerabilidade econômica e financeira, foi de atribuir veracidade a informações que careciam de credibilidade? Tarefa difícil! 

Papel da inteligência corporativa

A gestão estratégica de uma empresa ou corporação se dá com inteligência corporativa. Ela é a produção de conhecimento decisório, a partir da cautela no acesso de qualquer informação para descartar as desinformações, atualmente chamadas de fake news.

A exemplo, tem-se notícias replicadas automaticamente nas redes sociais, sem a devida confirmação. Ou seja, tivemos acesso a informações falsas que tumultuaram o cenário de segurança e a retomada comercial das empresas.

Sendo assim, com a proliferação viral de informações, as empresas que conseguiram antecipar-se na validação, ficaram estrategicamente a frente.

Isso, pois, se não houver a coleta e o tratamento adequado, as desinformações serão disseminadas corporativamente. E, cada colaborador conectado a uma rede social ou aplicativo, transforma-se sem perceber, em um agente de desinformação. 

Para coletar informações, através de fontes humanas, imagens, vídeos e demais fontes abertas oficiais e não oficiais, os mais céticos responderão que é impossível atribuir como verdadeira qualquer informação, visto que nenhuma fonte é segura. Ou seja, não existe orientação segura. 

Portanto, a pandemia COVID-19 nos faz refletir sobre a importância da inteligência corporativa no tratamento da informação e produção de conhecimento, passando aos seus colaboradores um status lúcido sobre os acontecimentos e ações que serão tomadas pela empresa. 

Agindo dessa forma, com sabedoria e cautela, as empresas conseguirão gerenciar impactos de desinformações aos colaboradores, controlando impulsos comportamentais desnecessários, pois em tempos de crise, a lucidez mental e corporativa é fundamental.

Para finalizar, vale o questionamento, sua empresa passou ou está passando um status adequado durante a quarentena? Se a resposta for positiva, que estratégia utilizaram?

Gostou do artigo? Então pode se interessar por esse também: A comunicação em tempos de pandemia e as novas práticas nos trabalhos de auditoria.

*Iuri Camilo de Andrade, é Consultor e Entrevistador Forense na ICTS Protiviti.

“Essa pessoa parece que fala com os olhos.” Todos nós já ouvimos esse comentário algum dia, certo? É verdade que a linguagem não-verbal representa a maior parcela do canal de comunicação de uma pessoa. Algo em torno de 55% da comunicação, segundo pesquisas técnico-científicas. Trata-se de uma postura que, por meio de gestos e expressões faciais sinalizam legítimas ou ilegítimas emoções. A linguagem corporal, invariavelmente, emite sinais que denunciam a tentativa de encobrir a verdade e, assim, contradizer a linguagem falada.

Em um cenário completamente novo, de pandemia e de transição abrupta para uma economia de baixo contato, continua sendo fundamental a análise dos aspectos corporais dos interlocutores para decifrar suas mensagens não ditas. O desafio é: como fazê-lo se agora as conversas e encontros migraram do ambiente físico para o virtual?

Importância da linguagem não-verbal

Um coçar de nariz, um tamborilar de dedos na mesa, uma inquietação na cadeira… Tudo isso são sinais preciosos que revelam muito do que se quer esconder.

São comportamentos que avaliamos durante entrevistas investigativas de fraudes em empresas. O Big Brother de gestos e entonações é captado no olho virtual. Não se engane.

Cada gesto conta. E qualquer movimento brusco, fora do padrão observado no entrevistado revela muito. Em uma entrevista recente on-line, o entrevistado passou uma hora e meia numa postura relaxada, demonstrando tranquilidade. Até que ouviu a pergunta: “Você mentiu em algum momento durante nossa reunião?”. A resposta foi “não”, acompanhada de um cruzar de braços, o único durante toda a conversa.

É importante mencionar que no início de uma entrevista analisamos o padrão de comportamento basal do entrevistado, ou seja, buscamos identificar os trejeitos naturais de cada pessoa quando tocamos em assuntos do dia-a-dia. Assim, gestos distintos dos revelados no comportamento basal podem ser interpretados como possíveis red flags.

E essa foi a interpretação: os braços cruzados foram uma contradição em relação à postura corporal natural demonstrada até então. E entregaram uma posição de proteção, defesa, que estava bem disfarçada. O cruzar de braços foi parte importante da análise final.

Impactos do ambiente on-line

Nesse cenário on-line, as ações gestuais do interlocutor continuarão sendo observadas com clareza: braços, posturas, inclinações da cabeça para cima, para baixo, o ato de buscar objetos sobre uma mesa etc.

Esses movimentos e gestos corporais podem estar alinhados com o discurso verbal, portanto, serem considerados verídicos. Por outro lado, podem revelar momentos de tensões e serem possíveis sinais de mentira, se expressados de maneira brusca ou mesmo se desalinhados com as palavras do interlocutor.

Geralmente as reações intempestivas do corpo de uma pessoa são reveladas em temas em que o interlocutor sente-se desconforto para emitir a opinião verdadeira e acaba partindo para o caminho da mentira.

Oportuno destacar que a análise corporal poderá ser parcialmente impactada. No ambiente on-line não teremos a visão plena do entrevistado, sem falar em uma possível má-qualidade da transmissão virtual, o que nesse caso resultará numa leitura mais difícil nesse aspecto.

Por outro lado, em uma transmissão on-line de boa qualidade, as análises originadas da linguagem não-verbal, mesmo que parciais, seguirão relevantes e continuaremos diferenciando os comportamentos verídicos dos fakes.

Os movimentos voluntários e involuntários dos músculos da face denunciam emoções, verdadeiras ou não. Reações de nervosismo, tensão, receio, alegria, tristeza e vergonha podem ser percebidas em uma videoconferência, mesmo tendo a visão parcial do interlocutor.

Sorriso, boca torta, nariz franzido podem significar reações de ironia, desprezo e tensão. E continuarão sendo observadas também no ambiente virtual.

Não é demais lembrar que as variações da fala do entrevistado constituem outro tipo de análise importante em uma conversa.

O estudo da paralinguística avalia as características do tom de voz, a maneira de falar, eventuais pausas nas falas e outras alterações. Entretanto, uma boa qualidade de áudio e a inexistência de ruídos externos são fatores a serem considerados para essa análise.

O modelo de entrevista on-line ou videoconferência — o qual já realizamos — será cada vez mais usual daqui para frente, já considerando inclusive o período pós-pandemia.

Nesse sentido, apostamos que a observância da linguagem não-verbal permanecerá como parte essencial da análise em uma entrevista investigativa ou em uma reunião de negócios, mesmo num ambiente virtual.

Afinal, o corpo fala. Mesmo a distância.

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* Daniel Lima é consultor pleno e especialista em entrevistas forenses da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados, única empresa de consultoria reconhecida como Empresa Pró-Ética por 5 vezes seguidas.

A recente crise econômica aliada ao alto nível de endividamento de empresas e famílias tornou o problema da inadimplência um dos maiores tormentos do empresariado nacional. Como se não bastasse este cenário conturbado, é cada vez mais necessário enfrentar com inteligência o devedor que age de má-fé, que, em essência, é aquele que tem condições financeiras de arcar com a sua dívida, mas busca se esquivar dos seus compromissos monetários, utilizando vários meios escusos para “blindar” o seu patrimônio. A resposta existe: a investigação de ativos.

Devedores de má-fé

Dentre as maneiras de esvaziamento e ocultação patrimonial cometidas pelo devedor de má-fé estão doações em vida para herdeiros legítimos; venda de bens para parentes, amigos e parceiros de negócios; transferência de patrimônio para empresas em que já foi sócio (ou pertencente a familiares, amigos e parceiros de negócio), ademais outras típicas fraudes patrimoniais. Face a essas medidas fraudulentas, os meios tradicionais de recuperação de crédito, tais como protestos em cartórios e processos judiciais de execução de débito, infelizmente têm se mostrado, mesmo com as recentes mudanças legislativas, incapazes de isoladamente impedir o processo de ocultação patrimonial e garantir que a insolvência do devedor não se configurará no momento em que a dívida for finalmente cobrada.

A importância da investigação de ativos

É justamente neste sentido que a investigação de ativos é uma ferramenta crucial nas atuais relações comerciais. Ela funciona em caráter preventivo, ao possibilitar que o empresário conheça patrimonialmente a pessoa com quem está prestes a fazer negócios, evitando, por exemplo, a aceitação de garantias oferecidas que se mostrem problemáticas para futura conversão em dinheiro. Também possibilita que, em caso de inadimplência, o credor saiba de antemão quais bens e direitos pertencentes ao seu devedor garantirão, da forma mais rápida possível, a satisfação do seu crédito, ao revelar quais os ativos mais líquidos existentes de fato no patrimônio do investigado.

Funcionando como um verdadeiro mapa da mina, uma investigação de ativos realizada de forma competente permite que o empresário enfrente uma negociação direta com seu devedor estando totalmente ciente de todos os dados. Desde que conduzida por profissionais que conheçam não apenas os mecanismos de blindagem patrimonial como dominem as boas ferramentas de um levantamento de bens e direitos – dentre elas data mining, pesquisa de mídia e redes sociais – os riscos de surpresas financeiras indesejadas em negócios comerciais são mitigados fortemente.

A investigação de ativos protege você

Desta forma, a investigação de ativos, mais que qualquer alternativa atualmente existente, funciona tanto como meio de prevenção de inadimplência pelo devedor, dado que o empresário terá total ciência do status patrimonial atual deste, como age sendo um “manual” de facilitação da recuperação do crédito, apontando em detalhes possíveis fraudes já cometidas ou permitindo que o credor se antecipe a ocorrência destas pelos meios necessários.

Em um cenário onde a recuperação de crédito se apresenta como um campo de batalha entre devedores e credores, conhecer bem seu inimigo antes de enfrentá-lo pode ser um fator determinante para garantir uma vitória contra a inadimplência, especialmente aquela fruto da má-fé. 

Nossos especialistas em investigação de ativos podem ajudar você e sua empresa contra devedores de má-fé. Conheça nossos serviços e entre em contato com os nossos profissionais.


Crimes cruéis e de difícil investigação são analisados criteriosamente pela justiça. Na maioria dos casos, as informações chegam por meio de informantes, análise das câmeras de segurança, radares inteligentes que mostram o passo a passo de algum veículo utilizado no crime e dados digitais coletados nos celulares de supostos criminosos. Porém, os caminhos percorridos em uma investigação criminal são muito semelhantes aos realizados em investigações empresariais.

Em casos recentes, informações coletadas de informantes direcionam as investigações. Assim como nas averiguações realizadas pelo poder público, os relatos de informações são importantes nas investigações corporativas. Segundo a Report to the Nations, da ACFE de 2018, denúncias identificam 40% das fraudes corporativas. Ou seja, é necessária averiguação e cuidado em casos criminais e empresariais.

Como conduzir investigações empresariais?

Em diversos casos conduzidos pela Protiviti, os relatos recebidos contribuíram para o sucesso da investigação. Por exemplo, um colaborador denunciou, de forma anônima, dois gestores que contrataram uma empresa de tecnologia, pelo período de dois anos no valor de R$ 4 milhões. As informações apontavam que os gestores eram os verdadeiros donos da empresa, embora não estivessem no contrato social. Além disso, o informante apresentou dados concretos como datas, locais do real funcionamento da empresa e outras informações. Tudo isso foi fundamental para a comprovação dos relatos.

As análises das câmeras de segurança são muitas vezes peças-chave no entendimento da movimentação dos colaboradores e de outras pessoas de interesse dentro da companhia. É comum, no entanto, utilizar análise de imagens para identificar acessos indevidos, veículos utilizados em desvios e até mesmo uso e tráfico de entorpecentes dentro das empresas.

Nos casos recentes, amplamente divulgadas pela mídia, diversas informações foram coletadas pelos celulares utilizados pelos envolvidos em esquemas e crimes.

A importância da tecnologia nas investigações empresariais

A utilização dos smartphones no cotidiano das pessoas e a criação de novos aplicativos e recursos que permitem maior armazenamento de dados e informações nos dispositivos e em nuvem, fazem com que a importância da análise de dados eletrônicos aumente nas investigações.

Em investigações empresariais, quando aparelhos são de propriedade da companhia, a análise de dados armazenados no dispositivo e informações sincronizadas em servidor da empresa é amplamente utilizada. Com isso, resultados positivos são observados na averiguação de diversos casos.

No contexto atual, é difícil imaginar que um fraudador utilize ferramentas corporativas para cometer irregularidades e deixar rastros de suas ações. No entanto, ao contrário do que ocorre com as informações que as pessoas enviam, elas não controlam as informações que recebem. Além disso, as ferramentas forenses, que permitem a recuperação de dados apagados e histórico de navegação na internet, trazem informações que os fraudadores acreditam que foram excluídas permanentemente.   

Ferramentas e mecanismos de investigações

Embora o poder de polícia atribuído ao ente público permita atuação mais ampla nas investigações policiais, as ferramentas e os mecanismos de investigações utilizados para desvendar os mais diversos crimes são também utilizados em investigações corporativas. Isso possibilita a identificação de fraudes e riscos e, consequentemente, a redução de perdas com desvios e ações de má-fé.         

*Daniela Aggio é Diretora de Forense e Investigação Empresarial na Protiviti Brasil. Advogada formada pelo Mackenzie, pós-graduada em gestão de riscos e fraudes corporativas pela FIA/USP e pós-graduanda em gestão empresarial na FGV. Professora de técnicas de entrevistas investigativas na pós-graduação de compliance e gestão de riscos da FIA/USP. Possui 15 anos de experiência em gestão de casos de fraudes corporativas.